16/12/10

MORREU A MARIA



Bolas

Morreu a Maria

A Maria do Alviela

Sempre com grande alegria

De quem o bairro se ria

Por ser figura castiça

Mas, hoje, chiça...

Já ninguém se lembra dela


Bolas

Morreu a Maria

Quando irá a enterrar?

Está numa gaveta fria

à espera que a reconheçam

Mas já Maria não é.

Foi sempre do Alviela

E também da fereguesia

Mas ninguém se lembra dela


Bolas

Morreu a Maria

Num tempo que não tem jeito

Porque nada é como dantes

De recordações distantes

Dos tempos da simpatia

E dos tempos do respeito

Em que todos riam dela

Em sincera galhofeira

Mas, ao morrer a Maria

Morre um pouco o Alviela

E a memória do bairro

Porque se esqueceram dela


Bolas

Morreu a Maria

Está mais pobre o Alviela

Está numa gaveta fria

Mas ninguém se lembra dela

E todos hoje perguntam

Mas quem era essa Maria?


2 comentários:

Fernando Freitas disse...

Que regresso em grande. Eu que não sou apreciador de poesia fiquei encantado com a mestria dos versos.
Um abraço,

Unknown disse...

Olá Joaquim

Este poema está muito interessante, mesmo original. É a vulgaridade do quotidiano da existência de alguém que é ninguém mas que depois de morrer levou consigo a necessidade da sua vida para complementar a dos outros.
Muito bom quanto a mim.