Bolas
Morreu a Maria
A Maria do Alviela
Sempre com grande alegria
De quem o bairro se ria
Por ser figura castiça
Mas, hoje, chiça...
Já ninguém se lembra dela
Bolas
Morreu a Maria
Quando irá a enterrar?
Está numa gaveta fria
à espera que a reconheçam
Mas já Maria não é.
Foi sempre do Alviela
E também da fereguesia
Mas ninguém se lembra dela
Bolas
Morreu a Maria
Num tempo que não tem jeito
Porque nada é como dantes
De recordações distantes
Dos tempos da simpatia
E dos tempos do respeito
Em que todos riam dela
Em sincera galhofeira
Mas, ao morrer a Maria
Morre um pouco o Alviela
E a memória do bairro
Porque se esqueceram dela
Bolas
Morreu a Maria
Está mais pobre o Alviela
Está numa gaveta fria
Mas ninguém se lembra dela
E todos hoje perguntam
Mas quem era essa Maria?
2 comentários:
Que regresso em grande. Eu que não sou apreciador de poesia fiquei encantado com a mestria dos versos.
Um abraço,
Olá Joaquim
Este poema está muito interessante, mesmo original. É a vulgaridade do quotidiano da existência de alguém que é ninguém mas que depois de morrer levou consigo a necessidade da sua vida para complementar a dos outros.
Muito bom quanto a mim.
Enviar um comentário