26/01/10

Calado





Isto sou eu:
Calado, triste, sorrindo.
Escutando e não ouvindo
Querendo ser (não sendo eu)
Isto sou eu ou não sou?
E quem por mim procurou
E me encontrou
Teve sorte;
Reconheceu-me na morte
Dum momento em que fui eu.

A ironia que há
No facto de me quererem
Como eu não me quero
De amarem o que eu faço
Nunca o que eu sou.

23/01/10

João Salgueiro, o que é que te veio à cabeça?

(Na corrida da Nova Gente, na Praça de Toiros do Campo Pequeno, em 2007)


Corrida da “Nova Gente”;
Sabemos que realmente
Há dias de pouca sorte.
E no 4º, um mansarrão
Com intre(estu)pidez o João
Resolveu brincar com a morte

Numa lide para resolver
Deu a volta e com saber
A um toiro manso perdido
Meteu os ferros da ordem
Mas as coisas mal ocorrem
Quando o destino é parido

E pronto já para sair
Com o publico a aplaudir
A “faena” que foi possível
Mais um ferro, só mais, um
Se não mete mais nenhum
Não acontecia o incrível

“Venha-me de palmo um ferro
Sou Salgueiro e não me aterro”
Ah, égua e espora danada.
Arrima-se e ao ladear
Já não consegue evitar
A colhida da montada

Eis quando senão acontece
São coisas que a vida tece
Por incrível que pareça
Apeia-se e frente ao toiro
Põe em risco o próprio coiro
Não estava bom da cabeça

“È toiro, bicho danado
Vais sair daqui esganado”
E seguindo no seu encalço
Afasta o peão de brega
Parecendo fazer-se à pega
Acontecendo o percalço

Cita de frente o bichano
Assumindo um ar ufano
Gesto de qual valentia?
Sorte e azar em mistura
Estiveram nesta loucura
Que em tempo algum não se via

O público fica expectante
Com tal atitude aberrante
E aparatosa colhida
Mas p’ra gáudio da multidão
Está na trincheira o João
Mesmo no fim da corrida

Artistas cruzam a arena
Para ele não vale a pena;
Pensa, e é gesto evitado
Mas perante a insistência
Lá enfrenta a assistência
Tendo sido assaz vaiado

Que lhe sirva de lição
E em acto de contrição
Jamais repita a proeza
Por respeito à ‘afición’
Que seu toureio seja dom
De raro garbo e destreza.


Dois pontos

Dois pontos,
Foi a tua proposta, em tom provocador,
(salvo o respeito e a amizade que me mereces).
Não aceito, sinceramente, tal veleidade,
Mas respondo ao repto: (dois pontos) -
É que sem espírito para contar contos
E sem querer conquistar pontos,
Acredita, se quiseres, nesta verdade,
Sem pontos. -
Quem não se afoita, acreditando no amor e,
Se quem espera desespera,
O que detém algo de verdade: -
Sem peias nem meias, quero manter a liberdade
De que gostem de mim porque sim.
Não porque sou assim.
Não porque sou assado.
O importante é que acreditem em mim
Como um homem leal e apaixonado.
Como a vida não deve ser arena de tontos,
Só posso terminar, retorquindo, pois:
Que se tudo o que se almeja não for obra de dois,
Que queres que te diga – Dois pontos?
Se algo mexe com as nossas consciências,
Sem que exista capacidade de interacção,
Bem ao largo há que por o coração
E urtigas para os dois pontos: - reticências…