25/11/09

Pachos na testa, terço na mão...

Poema de António Lobo Antunes

(Sátira aos homens quando estão constipados)


Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

2 comentários:

IRONMAIDEN2 disse...

Viva!

Não serei bem assim,mas por cá dizem que ainda sou pior,não acredito.

Quando estamos doentes,( elas nem sabem o que é sofrer)estamos mesmo, por isso é que nós nos sentimos ainda pior,devido à indiferença delas.

Cumprimentos!

Nica Villa Real disse...

Os homens, todos, quando estão doentes são uns "bundas-moles" rsrsrs e tentam nos convencer que já estão a morrer. Fazem tal drama e são tão convincentes com suas caras de cães abandonados que até nos sentimos culpadas.